Alberte Pagán. No número 19 da rua El Maamoun de Alexandria está a Vila Ambron, onde Durrell viveu e escreveu. Se a cidade cambiou e se uniformizou (apenas ficam as minorias que a faziam tam viva) e se a novela tamém evoluiu cos anos (baixando do pedestal desde o que nos mirava altiva), a casa, agora rodeada de feos blocos de vivendas, apenas se mantém em pé. Completamente abandonada e reciclada como cagadeiro, resulta perigoso caminhar polos seus andares caídos e completamente impossível achegar-se à torre octogonal desde a que o escritor contemplava a cidade. Lim O quarteto de Alexandria quando novo, numha traduçom ao espanhol que me deixara meu irmao. Era umha época na que eu começava a interessar-me polas literaturas nom ocidentais e lembro as conversas e discussons ao respeito. Eu argumentava as minhas preferências por algum escritor egípcio (Naguib Mahfouz): a sua visom de Egipto sempre seria mais auténtica que a visom colonial e exótica do senhor Durrell. Si, de acordo, dizia meu irmao, mas a mim o que me interessa é a literatura e nom a realidade egípcia. Décadas despois lembro mais essa conversa que o contido narrativo do Quarteto. Após umha visita a Alexandria para pagar os meus respeitos a Kaváfis, releo ao “velho poeta” e releo a Durrell para sacar-lhe partido à novela e à cidade, umha cidade tam cambiada, tam “arabizada”, que as aventuras da Darley, Justine e Balthazar hoje nom poderiam ter cabida nela. Mas igual de cambiado topei o Quarteto: o que lembrava como esquisita literatura nom era mais, agora, que artifício (com momentos que bordejam o ridículo, como quando, no leito de morte de Narouz, descobrimos de pronto as dotes ventríloquas de Balthazar que imita a fala de Clea para consolar ao moribundo); e o que daquela intuía como visom colonial confirmava-se agora, em momentos pontuais, como racismo (que devirá em sionismo). As personages da novela de Durrell som estrangeiras ou de ascendência estrangeira, falam francês, inglês ou grego, e mesmo quando som egípcias, como Justine e Nessim, a umha é judia e o outro é copto. A Alexandria que habitam é “cosmopolita” a costa de eliminar a presença árabe muçulmana, reduzida a algumha personage secundária e ao “bairro árabe” que às vezes visitam para produzir as cenas mais lúgubres da narraçom. Leila Hosnani lê livros noutros idiomas porque “ninguém pode pensar ou sentir só na incomensurável obsolescência do árabe”, o calendário lunar é “obsoleto” e em geral as alusons aos egípcios muçulmanos som despectivas. Os egípcios Justine e Nessim, aos que o narrador chega a chamar “estrangeiros”, é dizer, nom muçulmanos, conspiram introduzindo armas em Palestina para provocar um levantamento judeu, porque “Só há umha naçom que poda determinar o futuro de todo no Médio Oriente. Todo, e paradoxalmente mesmo o nível de vida dos miseráveis muçulmanos, depende dela, do seu poder e dos seus recursos.” Quiçá O quarteto de Alexandria seja umha grande novela, mas a Alexandria (e as personages) de, por exemplo, Miramar (Mahfouz) é mais autêntica.