
Alberte Pagán. Primeiro foi Palestina, ocupada, violada, massacrada. Despois, nos últimos doce meses e por diferentes circunstâncias e casualidades, tocou-me visitar umha série de jóvenes estados que nom contam com reconhecimento internacional: a montanhosa Nagorno-Karabakh (República de Artsakh), entre Arménia e Azebaijan; a russificada Abkhazia, na costa do Mar Negro; a minúscula Transnístria, orgulhosa do seu passado soviético. Mas em nengum destes países me sentim tam bem acolhido como na hospitalária Somaliland.

Tamém fôrom as autoridades somalis as únicas que estampárom, orgulhosas, o seu visado no meu passaporte —nos outros países citados o visado entregava-se em mao, para evitar conflitos nas aduanas vizinhas, e, no caso da receosa Abkhazia, tinha que ser devolto à saída do país.
Somaliland é um país seguro onde governa a lei e a orde, como me lembram fachendosos os somalis que param a falar comigo nas animadas ruas da capital, Hargeisa. A primeira pergunta (retórica) que me fam, repetidamente, é: “Por que nom vas a Mogadishu?” Ambos sabemos que a resposta é porque ali (a diferência de aqui) nom aguantaria vivo quatro dias .
Tam em sério tomam o tema da seguridade, sobre todo a dos estrangeiros, que para viajar polo país cumpre alugar um veículo com condutor e com escolta militar. (Só se me permitiu usar o transporte público desde Wajaale, na fronteira etíope, até a capital). Em Berbera, na costa do Golfo de Aden, ainda resultava mais estranha a minha presença, o que fazia crecer o número de invitaçons a mascar amargas folhas de chat (a ubíqua droga local, substituta do ilegal alcol), adoçadas com abundante chá nalgumha terraça sombria que nos protegia dos abafantes 45ºC da rua.

Entre Hargeisa e Berbera topam-se as pinturas rupestres de Las Geel (“Manancial dos Camelos”), num afloramento rochoso a uns poucos quilómetros da estrada, um excelente exemplo da arte neolítica que abunda no Corno de Africa. (Lembremos que estamos a um passo da nossa avoa Lucy, à que podemos visitar no museu de Addis Ababa.) As pinturas espalham-se polos teitos de diversos refúgios que nom chegam a ser covas, e por isso surprende aínda mais o excelente estado de conservaçom das suas rechamantes cores e a excessiva abundância e superposiçom de motivos, que nada tenhem que envejar às nossas Altamiras.
A figura mais repetida é a da vaca, mas tamém topamos personages humanas, cánidos, monos e algumha jirafa. O mais curioso, porém, é a ausência de realismo nestas representaçons, que adquirem um valor mais simbólico que documental: identificamos as vacas polos ubres e os estilizados cornos em meia lua, mas o tronco semelha independente da enorme cabeça, que nalgum caso está decorada cerimonialmente. O primitivismo e a arte de vanguarda dam-se a mao.

Quando regresso a Hargeisa, o Hotel Oriental, no que parara uns dias antes, está completo. Percorro umha dúzia de hoteis antes de topar onde durmir nalgumha pensom básica. Pergunto que acontece. Umha mulher responde: “Som as vacaçons de verao.” Toda a povoaçom emigrada regressa ao país. É ela, coas suas remessas de diñeiro, a chave do éxito económico e político de Somaliland.
Essa noite chove repentinamente. As ruas de Hargeisa anegam-se em qüestom de minutos.
Magníficas fotos e magnífico relato do que me parece máis unha aventura que unha fantástica viaxe, xa só reservada para raros (por escasos) espíritos aventureiros. Saúdos.