Alberte Pagán. AS LAGANHAS DE FRANK ZAPPA. Gosto de toda a ampla e variada produçom musical de Frank Zappa. Mas nom passam de meia dúzia os álbuns aos que volto umha e outra vez: as cançons do Apostrophe, a música orquestral de vanguarda de The Yellow Shark, ou o jazz-rock de Hot Rats, disco que roça a perfeiçom.
Mas há um álbum ao que tenho especial apreço: Sleep Dirt, o primeiro inteiramente instrumental da carreira do músico. Ainda que definir Sleep Dirt nom é doado, devido à intromissom da indústria discográfica nos desígnios do artista, essa indústria rapinheira que logo é a primeira em encher a boca com reivindicaçons dos “direitos de autor”.
Escoitei o Sleep Dirt por primeira vez na adolescência na sua versom LP de 1979. Quando esse vinilo desapareceu da minha vida passou umha longa tempada antes de me fazer coa ediçom em CD de 1991. Esse passo do tempo desdebuxara as minhas lembranças da obra original; é por isso que quando escoitei o CD reconhecia e nom reconhecia a música: como era possível que nom lembrasse essa voz feminina em “Flambay” ou em “Spider of Destiny”, umha voz que chegava a afogar os temas, agora cançons, coa sua omnipresença?
Sleep Dirt nom naceu como álbum individual senom como parte dum projecto mais ambicioso chamado Läther, umha obra em quatro discos que se publicaria postumamente. As obrigas contratuais de Zappa obrigárom-no a desglossar Läther: assi nace Sleep Dirt. Mas quando Sleep Dirt se reedita em CD o autor introduz a voz de Thana Harris em tres temas seica inicialmente concebidos como cançons dum musical que nunca se chegaria a realizar. Mas eu botava de menos a versom instrumental, coa que me criara musicalmente; umha versom que durante moitos anos permaneceu inasequível, ainda que bem é certo que dous desses tres temas reapareceriam em Läther na sua versom original, é dizer, a do LP de 1979.
VACAS
“Regyptian Strut” é o quarto tema de Sleep Dirt, último da cara A. Cada vez que o escoito, desde aquela já distante adolescência, nom podo deixar de pensar no “Atom Heart Mother” do álbum homónimo de Pink Floyd: os mesmos ventos solenes, a mesma intensidade, a mesma mistura de géneros a meio caminho entre a vanguarda e o rock. Homenage de Zappa ao grupo británico? Improvável. Paródia do irreverente músico estadounidense aos músicos que melhor encarnárom a psicodélia hippie, tam criticada por Zappa? Possível. Às vezes penso que este parentesco entre os dous temas, “Atom Heart Mother” e “Regyptian Strut”, nom existe além da minha cabeça. Mas quando vejo a portada de Läther (álbum que começa co citado tema), o parecido reafirma-se. Se Atom Heart Mother retrata na sua portada umha vaca num lameiro, Läther fai o próprio, ainda que com significativas diferenças: a vaca de Pink Floyd, de costas a nós, gira a cabeça para olhar à cámara; é umha fotografia realista. A vaca de Zappa, que em realidade é um pucho, tamém nos olha directamente, ainda que sem dar-nos o lombo. Mas há algo irreal no animal, que mesmo parece deforme; umha irrealidade que enlaça coa da portada de Sleep Dirt. Fixemo-nos bem: nom é um mapa de Itália o que se debuxa no costado do jato, quiçá alusom à ascendência italiana do músico, que assina um dos seus discos como “Francesco Zappa”? Mas, um momento, fixade-vos na cara do animal, nessas manchas negras arredor da boca: reconhecedes o bigode e a mosca de Zappa, mal pintadas com rotulador preto? Frente à solenidade de Pink Floyd, o humor e a irreverência de Zappa.